quinta-feira, 14 de maio de 2015

Filhos

Palavras que podiam ser minhas, soubesse eu escrever assim:
Aos filhos.
«Uma lista de regras porque isso aqui está sempre muito livre e solto e pais existem para isso. Elaborar regras que determinem uma conduta aceitável. Vamos lá. Regras. Claras. Rígidas.
1. baguncem: a vida, os cabelos, as gavetas. Desconfiem de tudo, tudo que aparentar arrumado demais.
2. corram: se o espaço for mínimo – mas ainda assim possível – acelerem o passo. Correr nos dar o poder de fazer vento no rosto. Brincar de deus, ora. Agora, se o espaço for grande, voem.
3. se abracem: irmão abraçado faz muralha. Protege, acolhe.
4. falem um pouco mais alto que o necessário: onde tem voz de criança, no bairro, tem vida. Uma rua sem ruídos infantis é um beco sem saída.
5. tomem banho frio: rápido (por causa da falta de chuvas), mas tomem. Banho frio faz a gente lembrar dos ossos. E que estamos inteiros. Isso é para a vida.
6. comam juntos: fazer uma refeição sozinho é como rezar para um deus surdo. Quando os três estão à mesa, a alma se alimenta. 
7. leiam: é a única saída de emergência que salva do incêndio lá fora.
8. sujem a casa: isso indicará que vocês vieram de algum lugar divertido e que poderão se divertir limpando tudo, juntos, depois. Fazer faxina é melhor que fazer terapia.
9. ouçam sua mãe: ela é a única pessoa do mundo que não irá disputar com vocês o que é certo e o que é errado. Quer apenas que vocês sejam felizes.
10: tenham um quintal: baguncem, corram, se abracem, falem alto, tomem banho frio, comam juntos, leiam, se sujem e ouçam sua mãe quando ela disser que é hora de entrar em casa.»

As nove e do seu pai.

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